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Jornalismo

Posted by Amanda Vaz Tostes on 16:42 in ,
Não assisti ao melhor filme da minha vida, nem tenho um estilo musical predileto ou uma banda favorita pela qual morrer de amores. Os desenhos que eu faço nunca estão realmente acabados. Encontro defeitos em gente absolutamente boa e qualidades nos irremediavelmente maus em tudo. Acho cruel eleger o melhor prato de comida que já provei e injusto escolher apenas uma estação pra chamar de melhor do ano.

Uma das coisas mais ricas que jornalismo tem me trazido é poder repensar meus conceitos com frequência. Cada entrevista traz uma perspectiva diferente, abalando ideias fixas que vou desconstruindo, sob intensidade variável, em espaços de tempo inconstantes.

Não sou radical, nem considero isso um defeito. Sei também que isso não é positivo o tempo todo. É o caminho que eu tenho escolhido e me tem feito mais feliz do que triste. Deve ser o melhor.

Como diz Manuel Carlos Chaparro, em ‘Pragmática do Jornalismo – Buscas práticas para uma teoria da ação jornalística’, minha meta profissional deve ser viabilizar o acesso ao direito de informação, fazendo afirmações seguras do que vi, ouvi e senti. Não quero fazer retratos em preto e branco. A vida vem me apresentando uma palheta infinita de cores e é desperdício ignorá-la.

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Pizza

Posted by Amanda Vaz Tostes on 18:05

Era a noite mais abafada do ano. Me pediu pra escolher onde jantar. Sentou de frente pra parede, de costas pro restaurante, do lado de uma janela. Pedimos uma genérica. Minha fatia já tinha virado farofa quando olhei pro prato dele. Cortava tão bem os pedaços que o recheio ia descer arrumado pelo seu esôfago. Comentei quatro vezes em quatro minutos que ia chover. Mas ele era só aquele sorriso perfeito, controlado, mastigando a pizza e a minha tranquilidade. Trocamos algumas perguntas, conversa de quem não se importa com respostas falsas. Reclamou da minha resistência e fingiu não saber que tudo aquilo era o meu maior grau de ousadia. A pizza acabou, saímos do restaurante e ele tentou me abraçar. Não tinha gente na rua e ia chover, mas eu estava apavorada. Me soltou de leve, desapontado.  Era só deixá-lo em casa e o dia terminaria feliz. Ouviu meu suspiro forte enquanto eu analisava o formato das unhas dele. Finalmente cedi e senti o perfume do chiclete feito de colônia. Eu ri, ele não. Ele insistiu, eu pedi pra ir embora. Abri a janela do carro. Minha cabeça formigava e meus ossos já tinham derretido. Aquela ventania quente e a luz amarelo-ouro dos postes não vieram com trilha sonora. E tudo antes era ficção.

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O melhor banco

Posted by Amanda Vaz Tostes on 11:09 in , , , , ,

Outro dia, peguei o ônibus das seis horas no terminal. Encontrei meu assento preferido vazio. Do lado direito, antes da última porta, numa parte mais alta, na janela. Lá recebo o vento de Apucarana, que me faz tanta falta aqui. De lá posso ver quase todos os outros passageiros, além de quem está na plataforma.
Porque o ônibus não saía, olhei pra minha direita. Lá fora, uma linha de trinta pescoços brilhantes virados pra entrada do terminal. De diferentes dourados, em diferentes alturas, com várias texturas.
Comecei a andar de ônibus tarde: com uns 12 anos. Mesmo assim, já cheguei a embarcar no primeiro ônibus que parou no ponto, sem ter visto o destino. Andava pouco, mas aquelas viagens me faziam sentir alguma coisa de independência e até de dignidade. Me sentia membro daquela massa batalhadora, indo prum cursinho de informática no meio da tarde.
Do ônibus, eu podia reparar nas pessoas, porque estava segura. Os olhos me encarando logo passavam, assim que atingiam o fim da janela. Gostava de adivinhar o que elas traziam nas sacolas, de onde vinham, pra onde iam, com quem falavam no celular, se como se mexiam era mania ou só um tique momentâneo.
Talvez seja essa a origem do meu interesse por jornalismo. Por meio das entrevistas, na pele de repórter, posso olhar dentro dos olhos das pessoas e ouvir as explicações que eu queria. Deve ser por isso que me deu vontade de fotografar cada um daqueles rostos na plataforma do terminal. Por isso que eu achei todos eles lindos. Ou deve ter sido só a luz das seis da tarde.

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Terreno Pedregoso

Posted by Amanda Vaz Tostes on 05:46


A história contada pela mãe de uma família que fez de um, cem frutos


Não tinha nada. Era só pedreira”. Difícil acreditar na descrição que Luzia Aquino, 52, faz da primeira visão que teve, quando comprou a chácara na região norte de Apucarana, onde mora e trabalha há 23 anos. Cheio de canteiros de flores, de diversas árvores graúdas e com um trecho de mata fechada, o lugar comportou uma mina de extração de cascalho. “Nós compramos aqui porque era um lugar que ninguém queria. As únicas árvores que tinham era esse pé de eucalipto e outro que tem do lado de baixo”.

O marido, Higino, sempre foi apaixonado pela natureza e dedicou grande parte da vida à sua preservação. Assim que mudaram, deram início à recuperação daquela área. O artista plástico fazia pintura e relevo em couro, para a confecção de móveis e de roupas. Filho de imigrantes espanhóis chegados em 1948, herdou o apreço pelo cultivo de plantas ornamentais nativas da Mata Atlântica. Trabalho dividido com Luzia e os filhos Solano, Wiliam e Higino Júnior.

“Além das crianças pequenas, com oito, sete e dez, meu marido estava doente quando compramos aqui. Foi uma fase difícil na minha vida. A gente entrou só com a cara e a coragem”. Moraram em dois outros bairros antes da mudança para a chácara. Começaram a construção da casa e o reflorestamento, com mudas nativas da antiga propriedade. “Chegando aqui, nós plantamos o guapuruvu (árvore que pode chegar a 30 metros e dá cachos com flores amarelas e vistosas). Tá vendo aquela árvore grossa ali? – apontando a planta enorme. Então, era uma mudinha assim, ó. É linda a natureza, sabe? Aqui eu vou fazer um local de meditação. É um lugar importante, porque é onde as crianças vinham aprender a trabalhar. Aqui eles enchiam saquinho, brincavam, se sujavam, atiravam saquinhos um no outro. Só que a gente era tão feliz! Tão feliz e eu não tinha nada. E o pai deles era muito alegre. Fazia palhaçada com eles e eles trabalhavam brincando. O pai deles levantava cedo – eu ficava até brava, antecipa a mãe – acordava as crianças, os três tomavam café, com pão feito em casa - tinha que fazer direto”, lembra, com prazer. “E daí vinha tudo pra cá. E depois era uma hora no chuveiro pra arrancar a sujeira e ir pra escola. Todas as mudas que foram plantadas na chácara foram feitas aqui. Começamos a plantar mais e buscar mudas aonde tivesse. E a gente imaginava uma floresta. Lógico que isso aqui se tornou mesmo, né?” – completou rápido, sorrindo, rodeada de árvores muito altas, verdes e próximas umas das outras.

Durante sete anos, Higino ensinou os meninos a plantar e a cuidar da natureza. Luzia conta que ele sonhava em transformar o lugar num centro de cultura, onde as crianças fizessem artesanato e tivessem um jardim bem bonito. Ele também pretendia construir um casarão para que os filhos trouxessem suas famílias e eles morassem todos juntos, “como num castelo espanhol”, lembra Luzia. A casa é pequena, tem o formato de vírgula, paredes grossas e portas e janelas em arco. Em várias partes faltam reboco, tinta e até pedaços da laje.“Até hoje a gente não terminou essa casa. Por falta de dinheiro, mesmo. Um dia eu termino. Não precisa ser um castelo – ri -, mas o básico pra viver em paz. Essas pedras do muro perto de casa foram todas trazidas pelo Higino. Ele era meio maluco, cabeça de artista, sabe?” – Luzia diz rindo e dispara, mostrando a parte exterior da casa: “Quero fazer um forno à lenha. O canil tá desativado porque eu viajo muito. Esse pé de abacate nasceu com o caroço da fruta que eu comi. Aquela flor vermelha ali é uma espécie de eucalipto australiano.”

Para falar do interior, Luzia se esconde. Sob um teto bem alto, entre peças de ferro que o marido colecionava, estão pés de máquinas de costura e um moinho de mesa com mais de 150 anos. Espalhados, quadros, esculturas e móveis feitos pelo artesão decoram o lar. “Minha casa é cheia de teto caído. Porque umedeceu, né. Quando eu vim pra cá, eu cutuquei, derrubei até não querer mais pra parar de cair. Porque senão, ia cair em cima de mim e minha neta tinha medo de entrar. Queria montar um albergue pra todo mundo vir dormir aqui. Eu não reclamo de ter minha casa desse jeito. É uma coisa de luta mesmo, eu fazia bolsas com a minha cunhada até três, quatro horas da manhã e o meu marido fazia uns trabalhos no couro.” Um baú grande, feito com esse couro marcado guarda mil coisas, entre elas, diários de Higino e uma bolsa que um dos filhos viu na rua e pediu pra comprar, porque era do pai dele. “Esses dias eu fui na casa de uma mulher e... me arrepiou todinha – mostrando a pele do braço e embargando a voz... cheguei lá, um jogo de cadeiras, a coisa mais linda do mundo! E era o pai deles que tinha feito. É uma coisa que não pode deixar morrer”, Luzia diz, convicta.

Em 1996, com 47 anos, Higino ficou mais doente e morreu. “Ficaram eu e as crianças, daí, ficou como se a gente tivesse num barco sem remo. O primeiro ano foi difícil, mas conseguimos passar. Daí, no segundo ano, meu filho mais velho ficou doente. Depressão. Aí, decidi que eu tinha que fazer alguma coisa. Eu não podia trabalhar fora. Eles não podiam trabalhar. A gente ficou envolvido ali, naquela coisa difícil. Pensei: Nossa, tinha umas plantinhas ali – a voz falhando, um suspiro, uma pausa - aí eu peguei e falei assim pra eles: Ó – Luzia não diz, engole as palavras e retoma a conversa, tentando explicar - não tinha nada pra comer, imagina você num dia de domingo – mais uma pausa - aí eu falei : Não! Vou fazer alguma coisa! Catei as mudinhas de pingo-de-ouro, catei muda de palmito. Aí, batendo de casa em casa, vendia. Fiz seis reais, passei lá, comprei arroz, feijão, farinha, café, leite. Durou até terça-feira. Nisso veio um senhor que viu as mudinhas e começou a comprar. E a partir desse dia, tem que ter atitude – explica - , a partir desse dia as coisas foram deslanchando. Meu filho já tava bem melhor. Só que pra isso, passaram anos. Só que foi tão rápido. Tudo por causa da natureza”.

“Eu tinha um canteiro, pra você ter uma ideia, de pingo-de-ouro, aquele amarelinho... que dava uns dois metros de comprimento por um metro de largura. Tinham 100 mudinhas ali. Aí, eu pegava aquelas mudinhas e tinha um soldado que sempre vinha aqui, passava e pegava umas mudinhas. Aquilo lá era pra comprar comida.”

“Daí os meninos começaram a trabalhar. Meu menor tinha 14 anos e ele e meu sobrinho saíam pra fazer jardim. Eles já carregaram enxada, cavadeira, dentro do ônibus. Tem coisa que quando eu lembro, dói. Mas eles não eram tristes não, não tinham vergonha. Estudavam em colégio particular. Eu andava com sandália de plástico, mas pagava o colégio. Eu e meu marido pagava o colégio porque a gente achava que tinha que ter uma boa educação. Então as professoras começaram a mandar gente pra fazer jardim e começamos a trabalhar com plantas”. Em 1994, Solano, com 14 anos, começou uma campanha de plantio de espécies ameaçadas em garrafas pets, que chamava “Campanha Bromélia Esperança”. Foram arrecadadas cerca de 10 mil garrafas, onde que ele e os irmãos plantaram mudas que depois foram doadas. “Ele semeava, tampava e todo dia quando ele chegava da escola - era uma oração, diz Luzia, sem esconder o orgulho - ia lá e aguava uma por uma”.

Para cada canto, Luzia tem uma ideia nova. Bancos com espantador de mosquito, mais vasos e flores mais coloridas. “Quero fazer isso porque o pai dos meus filhos morreu, mas deixou uma semente. ‘É só regar’, ele falava. Porque isso aqui é nosso, mas o dia que eu morrer, se meus filhos não quiserem isso daqui, eles não podem vender. Eles têm que doar pra uma instituição. Já foi feito um documento pra isso. Ele tinha medo de meus filhos ficarem sem ter onde morar. Acho que é porque ele sofreu muito. Sabe o que é ter tudo e depois não ter nada? E aí ele não sabia trabalhar. Eu não tinha dinheiro pra comprar nem uma lata de óleo. Um dia eu tava tão desesperada aqui, que eu pensava: Meu Deus, que que eu vou fazer? Não tenho dinheiro. Não posso sair trabalhar pra fazer nada. O que eu sabia era vender. Vender qualquer coisa que me dessem. Hoje eu não faço isso, mas se precisar, eu faço.”

“Mas um dia... você tá vendo um plástico ali? Ali, grudado na árvore?” - apontando para uma árvore de quase 15 metros – “Eu vim, sentei aqui”. – num muro de cascalho, de frente pra mata – “O Solano, meu filho, fazia muda do galho disso aqui. E eu tava desesperada. E daí, eu tava sentada aqui, sentei bem aqui. E eu tava chorando, pensando no que eu ia fazer. Tava seco, a gente não tinha irrigação. Fui na prefeitura pra ver se eles arrumavam irrigação, que depois eu pagava. E eles fizeram descaso de mim” – uma ponta de amargura ao falar. “Daí eu fiquei chorando e pensando, não preciso de ninguém, não. Fiquei sentada, olhando a árvore. Vi que meu filho tinha tirado uma muda da árvore. Daí, de repente, onde ele tirou tava brotando um galhinho. Aí eu relacionei uma coisa com a outra e pensei: Nossa, mas Deus é tão bom! Deus te dá tudo de graça. Aí eu prometi pra mim mesma, que não ia reclamar nunca mais. Levantei e senti uma energia tão grande daqui e comecei a trabalhar. Deus me deu o que eu mais pedia, que era a saúde do meu filho. Lógico que, com muito trabalho, tomando remédios, ele sarou. Foi tudo através da natureza. Nós, somos natureza.” Luzia andava pela propriedade, apontando cada flor, admirada pela beleza das plantas. “Aqui vou limpar tudo, vou fazer uma trilha, porque eu quero plantar bastante coisa. Aqui tem um pé de gabiroba, um pé de cravo.”, diz correndo os olhos cheios pela chácara. Hoje, ela vive da venda das mudas para reflorestamento e trabalha com plantas ornamentais mais por prazer do que por dinheiro.

Em 2006, os filhos de Luzia criaram o IBF – Instituto Brasileiro de Florestas, uma associação sem fins econômicos que apóia o reflorestamento e a proteção de florestas nativas. Montada com o patrocínio de empresas privadas e com o dinheiro da venda de mudas, a organização tem um escritório em Londrina. A base do instituto está localizada na chácara de Luzia, em Apucarana, cidade que tem o maior número de nascentes do estado. O terreno é menor do que um alqueire, tem 15 000 m². São mais de 100 espécies nativas, o maior número do Brasil. E a maior produção também. Luzia conta que tinha época que saíam de lá duas cargas de 100 mil, 150 mil mudas por semana e que a produção anual é de 1 milhão de unidades. As principais clientes são usinas. A raiz do IBF tá ali naquela mata, os ramos é que foram se abrindo”, completa Luzia.


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Esporte traz melhoria de vida para cadeirantes

Posted by Beatriz Botelho on 19:09
Uma quadra poliesportiva, uma bola, cadeiras adaptadas e força de vontade: isso é o necessário para que os cadeirantes que participam do projeto O Esporte na Saúde e na Qualidade de Vida de Pessoas com Paraplegia por Lesão Medular pratiquem basquete. Iniciado em 2007 o projeto tem a parceria dos cursos de Ciências do Esporte e de Fisioterapia da UEL.

“O professor de fisioterapia que trabalhava no HU, Fausto Orsi Medola, entrou em contato com a professora Rosângela Marques Busto, para desenvolverem em conjunto um projeto com pessoas com deficiência, pois só a fisioterapia não estava dando conta de desenvolver as capacidades dos cadeirantes. O esporte adaptado começou com essa intenção de desenvolver a qualidade de vida para pessoas com deficiência. Começou com fisioterapia, na verdade, e com o passar do tempo foi tendo um caráter mais competitivo,” explicou o treinador do time de basquete adaptado da UEL, Manuel Carvalho.

Manu, como é conhecido o treinador, está no quarto ano de Educação Física e é estagiário do projeto há três anos e meio. Ele afirma que depois de um tempo trabalhando com os cadeirantes, ele não os vê como “coitadinhos, que precisam de ajuda”. “Se o atleta não consegue fazer uma atividade, então procuramos alguma coisa que ele consiga fazer e trabalhamos em cima disso,” afirma.
Treinador Manu e os atletas

No treino, os atletas mostram a habilidade que têm com a cadeira adaptada: eles se movimentam muito rápido, conseguem girá-la em 360° para dar o drible no adversário e têm muita coordenação, pois ao mesmo tempo em que giram as rodas da cadeira com uma mão, conseguem bater a bola no chão com a outra. Também não faltam para eles pontaria e força nos braços.

Wesley Alves de Almeida, 24 anos, jogador de basquete há dois anos, conta que conheceu o projeto por meio de um amigo numa consulta no HU. “A partir do momento que eu conheci o projeto eu não parei mais de vir,” afirma o atleta de forma entusiasmada.

Cadeirante há quase quatro anos, Neguinho, como é conhecido entre os amigos, conta que, no início, sua maior dificuldade no basquete era a falta resistência. “Eu não tinha força no braço, não sabia nem trocar de cadeira, fazer transferência. Aprendi tudo no basquete.” Apesar da dificuldade no início, Neguinho diz que se adaptou bem e rápido ao esporte e reconhece que sua maior superação foi ter recuperado a auto-estima.

“O esporte mudou minha vida totalmente. Antes eu ficava em casa sem fazer nada, pensando no que seria minha vida em uma cadeira de rodas e não é nada do que eu pensava no começo. O basquete faz parte da minha vida.”

Wesley (Neguinho)  no arremesso

Também jogador de basquete adaptado Marcos Felipe Nanes Mohr, 18 anos, afirma que conheceu o projeto devido ao amigo Neguinho. Eles se conheciam de Rolândia, cidade onde os dois moram.   Eles começaram a conversar e andar juntos depois que sofreram a lesão, até que Marcos ou Marquinhos, como também é chamado pelos amigos, decidiu também participar do projeto. O atleta de 18 anos afirma que no começo foi muito difícil para ele conhecer e se enturmar com o pessoal do basquete. “No primeiro dia foi meio chato, não conhecia ninguém. Mas depois eu conheci e ficou legal,” confessa.

Sair de casa foi outra tarefa difícil para Marquinhos. Ele conta que “não dá vontade de sair de casa, dá muita vergonha”. Ele revela, com timidez, que tem dificuldades até hoje, um ano e meio depois da lesão, para sair e que se sente bem indo para o treino e saindo junto com os amigos do basquete. “Aqui, vamos dizer, é uma família. Quando não tem treino eu fico em casa na internet o dia inteiro e parece que nem passa a hora. Aqui não. Aqui a gente conversa, brinca, marca algum lugar pra ir. Tem vez que saem dois, três ou quatro. Quando a gente está em mais pessoas eu tenho mais coragem de sair de casa,” afirma.

Os dois atletas de Rolândia conseguem transporte gratuito para poderem treinar. Eles vêm para Londrina com a ambulância do TEC (Transporte Emergencial Centralizado) da cidade onde moram às terças e quintas-feiras para o basquete na UEL e às segundas para a fisioterapia no HU.

Outro jogador do basquete adaptado é Rogério Garcia, 30 anos. Ele lesionou a medula em 2005 e ficou praticamente um ano sem sair de casa por causa da vergonha. “Eu não sabia como que era esse mundo. Depois que conheci o basquete eu comecei a sair de casa e vi que tinha várias pessoas em situações até piores do que a minha”, afirma o atleta que completa: “A minha maior superação foi conseguir sair. Eu tinha vergonha de olhar até para o meu colega que passava, mas depois do esporte eu superei tudo.”

Rogério também participa, desde novembro do ano passado, da equipe de halterofilismo. No sábado, dia 16 de abril, ele vai participar do campeonato do Comitê Paraolímpico e pretende levantar de 87 a 92,5 kg. O halterofilista explica que nesta modalidade há também adaptação para os atletas: as mesas, onde eles ficam deitados para erguer os halteres, são mais largas e as pernas dos atletas ficam amarradas com faixas para que o corpo não se movimente.

Juntamente com Rogério, outros quatro cadeirantes, um atleta com pólio e outro amputado participam da equipe de halterofilismo. Rogério diz que não tem se dedicado tanto ao basquete devido ao halter e afirma que ainda não está preparado, mas que futuramente pretende participar das paraolimpíadas na modalidade de halterofilismo.

Para Manu, que acompanha o caso dos atletas desde o início, eles evoluíram bastante.  “Eu acompanhei a evolução dos quatro que estão aqui hoje. E o mais legal é que eles não evoluíram só dentro da quadra. Evoluíram na questão do relacionamento, na postura, na forma  se portam, tudo isso melhorou. O convívio com pessoas também ficou bem mais fácil.”

Segundo o treinador o projeto também evoluiu conforme o passar do tempo. “No começo fazíamos uma atividade pra conseguir participar dos campeonatos. Esse ano estou pegando um pouquinho mais pesado com eles.”

O time participa de torneios, amistosos e já participou do também do Campeonato Paranaense que, por enquanto, só teve uma edição, pois a Federação está começando a se estruturar. O treinador conta que eles já ficaram em terceiro lugar em três quadrangulares: uma vez no quadrangular de Guarapuava e outra duas vezes em Ponta Grossa.

Manu comenta que o esporte influencia na vida dos atletas justamente nos pontos em que Neguinho, Marquinhos e Rogério destacaram.  “Aqui eles passam de uma cadeira pra outra, mas na casa deles é da cama, do sofá, do chão pra cadeira deles. O esporte interfere para que eles ganhem força e condicionamento físico. No começo da lesão a pessoa não sai de casa, fica com vergonha. Vindo aqui, conversando com pessoas que tem os mesmos problemas que eles, então eles conseguem perceber que não é tudo isso que eles pensam. Eles se sentem muito mais livres para fazer o que quiserem. Aqui eles têm muito autonomia, eles cuidam da vida deles e não são dependentes de ninguém,” conclui o treinador. 
Superação



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Parabéns!

Posted by Amanda Vaz Tostes on 18:07

É meu aniversário e posso fazer um pedido. Vou fazer três, porque devo ter alguns não gastos.

Me deixa falar pra mim viver sem perder autoridade no que sei

Me deixa ser gente boa e não menos feliz que os crentes em Deus

Me deixa chorar vendo gente morrendo a pontapés porque é gay

Aí sim vou ter alguma felicidade nesta data querida.

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O que você perdeu no noticiário

Ao jornalista é creditado o poder de contar o que acontece fora do alcance dos nossos olhos. Não dar voz às diferentes versões de uma história deveria receber punição por desrespeito aos direitos humanos.

Durante a Guerra do Golfo, a CNN fez transmissões em tempo real, com alcance planetário. A cobertura inédita foi amplamente divulgada, inclusive no Brasil. Contudo, essa influência não veio acompanhada de responsabilidade. A “guerra sem sangue” proclamada pela rede de televisão teve pelo menos 150 mil mortos.


Depois do atentado ao World Trade Center, em setembro de 2001, o mundo passou a ver árabes e muçulmanos com desconfiança e até desprezo. Tortura foi reconsiderada. Adultos, crianças e velhos foram - e são - humilhados porque a mídia não fez o trabalho dela.


Jornais e revistas compraram a versão – até então não comprovada - do presidente norte-americano de que o atentado às torres gêmeas tinha autoria de terroristas árabes. Os veículos de comunicação promoveram a falsa idéia de que árabe, muçulmano e terrorista são sinônimos. Assim, a invasão do Afeganistão e a do Iraque foram legitimadas pela mídia, por meio de jogos de palavras que pouco diziam sobre realidade histórica daquela região.


A questão palestina foi vendida como uma guerra na qual o lado do bem, representado por Israel e pelos Estados Unidos, tem de lidar com os ferozes invasores palestinos. Essa versão é um consenso no Ocidente graças à submissão dos comunicadores a megaempresários, tais como presidente Bush, que tinha grande interesse no petróleo iraquiano.


A tentativa de golpe no governo de Hugo Chávez foi arquitetada com ajuda dos EUA. Grupos jornalísticos da Europa e do Brasil chegaram a publicar e comemorar a renúncia do líder venezuelano. Logo depois do incidente, Chávez foi aclamado com aprovação popular superior aos outros países da América Latina.


O MST é outra vítima da corrupção midiática. A grande imprensa comumente classifica como vandalismo as ações do Movimento. Porque essa é a abordagem que agrada as elites.

Cuidado com a próxima edição do jornal. Ser jornalista
é poder demais e está sem regulamentação.



Leia isso aqui e "O Jornalismo Canalha - A promíscua relação entre a mídia e o poder", de José Arbex Jr.

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