Pizza
O melhor banco
Terreno Pedregoso
“Não tinha nada. Era só pedreira”. Difícil acreditar na descrição que Luzia Aquino, 52, faz da primeira visão que teve, quando comprou a chácara na região norte de Apucarana, onde mora e trabalha há 23 anos. Cheio de canteiros de flores, de diversas árvores graúdas e com um trecho de mata fechada, o lugar comportou uma mina de extração de cascalho. “Nós compramos aqui porque era um lugar que ninguém queria. As únicas árvores que tinham era esse pé de eucalipto e outro que tem do lado de baixo”.
O marido, Higino, sempre foi apaixonado pela natureza e dedicou grande parte da vida à sua preservação. Assim que mudaram, deram início à recuperação daquela área. O artista plástico fazia pintura e relevo em couro, para a confecção de móveis e de roupas. Filho de imigrantes espanhóis chegados em 1948, herdou o apreço pelo cultivo de plantas ornamentais nativas da Mata Atlântica. Trabalho dividido com Luzia e os filhos Solano, Wiliam e Higino Júnior.
“Além das crianças pequenas, com oito, sete e dez, meu marido estava doente quando compramos aqui. Foi uma fase difícil na minha vida. A gente entrou só com a cara e a coragem”. Moraram em dois outros bairros antes da mudança para a chácara. Começaram a construção da casa e o reflorestamento, com mudas nativas da antiga propriedade. “Chegando aqui, nós plantamos o guapuruvu (árvore que pode chegar a 30 metros e dá cachos com flores amarelas e vistosas). Tá vendo aquela árvore grossa ali? – apontando a planta enorme. Então, era uma mudinha assim, ó. É linda a natureza, sabe? Aqui eu vou fazer um local de meditação. É um lugar importante, porque é onde as crianças vinham aprender a trabalhar. Aqui eles enchiam saquinho, brincavam, se sujavam, atiravam saquinhos um no outro. Só que a gente era tão feliz! Tão feliz e eu não tinha nada. E o pai deles era muito alegre. Fazia palhaçada com eles e eles trabalhavam brincando. O pai deles levantava cedo – eu ficava até brava, antecipa a mãe – acordava as crianças, os três tomavam café, com pão feito em casa - tinha que fazer direto”, lembra, com prazer. “E daí vinha tudo pra cá. E depois era uma hora no chuveiro pra arrancar a sujeira e ir pra escola. Todas as mudas que foram plantadas na chácara foram feitas aqui. Começamos a plantar mais e buscar mudas aonde tivesse. E a gente imaginava uma floresta. Lógico que isso aqui se tornou mesmo, né?” – completou rápido, sorrindo, rodeada de árvores muito altas, verdes e próximas umas das outras.
Durante sete anos, Higino ensinou os meninos a plantar e a cuidar da natureza. Luzia conta que ele sonhava em transformar o lugar num centro de cultura, onde as crianças fizessem artesanato e tivessem um jardim bem bonito. Ele também pretendia construir um casarão para que os filhos trouxessem suas famílias e eles morassem todos juntos, “como num castelo espanhol”, lembra Luzia. A casa é pequena, tem o formato de vírgula, paredes grossas e portas e janelas em arco. Em várias partes faltam reboco, tinta e até pedaços da laje.“Até hoje a gente não terminou essa casa. Por falta de dinheiro, mesmo. Um dia eu termino. Não precisa ser um castelo – ri -, mas o básico pra viver em paz. Essas pedras do muro perto de casa foram todas trazidas pelo Higino. Ele era meio maluco, cabeça de artista, sabe?” – Luzia diz rindo e dispara, mostrando a parte exterior da casa: “Quero fazer um forno à lenha. O canil tá desativado porque eu viajo muito. Esse pé de abacate nasceu com o caroço da fruta que eu comi. Aquela flor vermelha ali é uma espécie de eucalipto australiano.”
Para falar do interior, Luzia se esconde. Sob um teto bem alto, entre peças de ferro que o marido colecionava, estão pés de máquinas de costura e um moinho de mesa com mais de 150 anos. Espalhados, quadros, esculturas e móveis feitos pelo artesão decoram o lar. “Minha casa é cheia de teto caído. Porque umedeceu, né. Quando eu vim pra cá, eu cutuquei, derrubei até não querer mais pra parar de cair. Porque senão, ia cair em cima de mim e minha neta tinha medo de entrar. Queria montar um albergue pra todo mundo vir dormir aqui. Eu não reclamo de ter minha casa desse jeito. É uma coisa de luta mesmo, eu fazia bolsas com a minha cunhada até três, quatro horas da manhã e o meu marido fazia uns trabalhos no couro.” Um baú grande, feito com esse couro marcado guarda mil coisas, entre elas, diários de Higino e uma bolsa que um dos filhos viu na rua e pediu pra comprar, porque era do pai dele. “Esses dias eu fui na casa de uma mulher e... me arrepiou todinha – mostrando a pele do braço e embargando a voz... cheguei lá, um jogo de cadeiras, a coisa mais linda do mundo! E era o pai deles que tinha feito. É uma coisa que não pode deixar morrer”, Luzia diz, convicta.
Em 1996, com 47 anos, Higino ficou mais doente e morreu. “Ficaram eu e as crianças, daí, ficou como se a gente tivesse num barco sem remo. O primeiro ano foi difícil, mas conseguimos passar. Daí, no segundo ano, meu filho mais velho ficou doente. Depressão. Aí, decidi que eu tinha que fazer alguma coisa. Eu não podia trabalhar fora. Eles não podiam trabalhar. A gente ficou envolvido ali, naquela coisa difícil. Pensei: Nossa, tinha umas plantinhas ali – a voz falhando, um suspiro, uma pausa - aí eu peguei e falei assim pra eles: Ó – Luzia não diz, engole as palavras e retoma a conversa, tentando explicar - não tinha nada pra comer, imagina você num dia de domingo – mais uma pausa - aí eu falei : Não! Vou fazer alguma coisa! Catei as mudinhas de pingo-de-ouro, catei muda de palmito. Aí, batendo de casa em casa, vendia. Fiz seis reais, passei lá, comprei arroz, feijão, farinha, café, leite. Durou até terça-feira. Nisso veio um senhor que viu as mudinhas e começou a comprar. E a partir desse dia, tem que ter atitude – explica - , a partir desse dia as coisas foram deslanchando. Meu filho já tava bem melhor. Só que pra isso, passaram anos. Só que foi tão rápido. Tudo por causa da natureza”.
“Eu tinha um canteiro, pra você ter uma ideia, de pingo-de-ouro, aquele amarelinho... que dava uns dois metros de comprimento por um metro de largura. Tinham 100 mudinhas ali. Aí, eu pegava aquelas mudinhas e tinha um soldado que sempre vinha aqui, passava e pegava umas mudinhas. Aquilo lá era pra comprar comida.”
“Daí os meninos começaram a trabalhar. Meu menor tinha 14 anos e ele e meu sobrinho saíam pra fazer jardim. Eles já carregaram enxada, cavadeira, dentro do ônibus. Tem coisa que quando eu lembro, dói. Mas eles não eram tristes não, não tinham vergonha. Estudavam em colégio particular. Eu andava com sandália de plástico, mas pagava o colégio. Eu e meu marido pagava o colégio porque a gente achava que tinha que ter uma boa educação. Então as professoras começaram a mandar gente pra fazer jardim e começamos a trabalhar com plantas”. Em 1994, Solano, com 14 anos, começou uma campanha de plantio de espécies ameaçadas em garrafas pets, que chamava “Campanha Bromélia Esperança”. Foram arrecadadas cerca de 10 mil garrafas, onde que ele e os irmãos plantaram mudas que depois foram doadas. “Ele semeava, tampava e todo dia quando ele chegava da escola - era uma oração, diz Luzia, sem esconder o orgulho - ia lá e aguava uma por uma”.
Para cada canto, Luzia tem uma ideia nova. Bancos com espantador de mosquito, mais vasos e flores mais coloridas. “Quero fazer isso porque o pai dos meus filhos morreu, mas deixou uma semente. ‘É só regar’, ele falava. Porque isso aqui é nosso, mas o dia que eu morrer, se meus filhos não quiserem isso daqui, eles não podem vender. Eles têm que doar pra uma instituição. Já foi feito um documento pra isso. Ele tinha medo de meus filhos ficarem sem ter onde morar. Acho que é porque ele sofreu muito. Sabe o que é ter tudo e depois não ter nada? E aí ele não sabia trabalhar. Eu não tinha dinheiro pra comprar nem uma lata de óleo. Um dia eu tava tão desesperada aqui, que eu pensava: Meu Deus, que que eu vou fazer? Não tenho dinheiro. Não posso sair trabalhar pra fazer nada. O que eu sabia era vender. Vender qualquer coisa que me dessem. Hoje eu não faço isso, mas se precisar, eu faço.”
“Mas um dia... você tá vendo um plástico ali? Ali, grudado na árvore?” - apontando para uma árvore de quase 15 metros – “Eu vim, sentei aqui”. – num muro de cascalho, de frente pra mata – “O Solano, meu filho, fazia muda do galho disso aqui. E eu tava desesperada. E daí, eu tava sentada aqui, sentei bem aqui. E eu tava chorando, pensando no que eu ia fazer. Tava seco, a gente não tinha irrigação. Fui na prefeitura pra ver se eles arrumavam irrigação, que depois eu pagava. E eles fizeram descaso de mim” – uma ponta de amargura ao falar. “Daí eu fiquei chorando e pensando, não preciso de ninguém, não. Fiquei sentada, olhando a árvore. Vi que meu filho tinha tirado uma muda da árvore. Daí, de repente, onde ele tirou tava brotando um galhinho. Aí eu relacionei uma coisa com a outra e pensei: Nossa, mas Deus é tão bom! Deus te dá tudo de graça. Aí eu prometi pra mim mesma, que não ia reclamar nunca mais. Levantei e senti uma energia tão grande daqui e comecei a trabalhar. Deus me deu o que eu mais pedia, que era a saúde do meu filho. Lógico que, com muito trabalho, tomando remédios, ele sarou. Foi tudo através da natureza. Nós, somos natureza.” Luzia andava pela propriedade, apontando cada flor, admirada pela beleza das plantas. “Aqui vou limpar tudo, vou fazer uma trilha, porque eu quero plantar bastante coisa. Aqui tem um pé de gabiroba, um pé de cravo.”, diz correndo os olhos cheios pela chácara. Hoje, ela vive da venda das mudas para reflorestamento e trabalha com plantas ornamentais mais por prazer do que por dinheiro.
Em 2006, os filhos de Luzia criaram o IBF – Instituto Brasileiro de Florestas, uma associação sem fins econômicos que apóia o reflorestamento e a proteção de florestas nativas. Montada com o patrocínio de empresas privadas e com o dinheiro da venda de mudas, a organização tem um escritório em Londrina. A base do instituto está localizada na chácara de Luzia, em Apucarana, cidade que tem o maior número de nascentes do estado. O terreno é menor do que um alqueire, tem 15 000 m². São mais de 100 espécies nativas, o maior número do Brasil. E a maior produção também. Luzia conta que tinha época que saíam de lá duas cargas de 100 mil, 150 mil mudas por semana e que a produção anual é de 1 milhão de unidades. As principais clientes são usinas. “A raiz do IBF tá ali naquela mata, os ramos é que foram se abrindo”, completa Luzia.
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Superação |
Parabéns!
É meu aniversário e posso fazer um pedido. Vou fazer três, porque devo ter alguns não gastos.
Me deixa falar pra mim viver sem perder autoridade no que sei
Me deixa ser gente boa e não menos feliz que os crentes em Deus
Me deixa chorar vendo gente morrendo a pontapés porque é gay
Aí sim vou ter alguma felicidade nesta data querida.
O que você perdeu no noticiário
Durante a Guerra do Golfo, a CNN fez transmissões em tempo real, com alcance planetário. A cobertura inédita foi amplamente divulgada, inclusive no Brasil. Contudo, essa influência não veio acompanhada de responsabilidade. A “guerra sem sangue” proclamada pela rede de televisão teve pelo menos 150 mil mortos.
Depois do atentado ao World Trade Center, em setembro de 2001, o mundo passou a ver árabes e muçulmanos com desconfiança e até desprezo. Tortura foi reconsiderada. Adultos, crianças e velhos foram - e são - humilhados porque a mídia não fez o trabalho dela.
Jornais e revistas compraram a versão – até então não comprovada - do presidente norte-americano de que o atentado às torres gêmeas tinha autoria de terroristas árabes. Os veículos de comunicação promoveram a falsa idéia de que árabe, muçulmano e terrorista são sinônimos. Assim, a invasão do Afeganistão e a do Iraque foram legitimadas pela mídia, por meio de jogos de palavras que pouco diziam sobre realidade histórica daquela região.
A questão palestina foi vendida como uma guerra na qual o lado do bem, representado por Israel e pelos Estados Unidos, tem de lidar com os ferozes invasores palestinos. Essa versão é um consenso no Ocidente graças à submissão dos comunicadores a megaempresários, tais como presidente Bush, que tinha grande interesse no petróleo iraquiano.
A tentativa de golpe no governo de Hugo Chávez foi arquitetada com ajuda dos EUA. Grupos jornalísticos da Europa e do Brasil chegaram a publicar e comemorar a renúncia do líder venezuelano. Logo depois do incidente, Chávez foi aclamado com aprovação popular superior aos outros países da América Latina.
O MST é outra vítima da corrupção midiática. A grande imprensa comumente classifica como vandalismo as ações do Movimento. Porque essa é a abordagem que agrada as elites.
Cuidado com a próxima edição do jornal. Ser jornalista é poder demais e está sem regulamentação.
Leia isso aqui e "O Jornalismo Canalha - A promíscua relação entre a mídia e o poder", de José Arbex Jr.
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